A terapia da fala está associada à comunicação humana (fala e linguagem), assim como a perturbações relacionadas com as funções auditiva, visual, cognitiva, muscular, respiração, deglutição e voz. A intervenção terapêutica pode ser realizada em crianças e adultos, envolve a terapia, reabilitação e reintegração no meio social e profissional, bem como intervenção precoce, orientação e aconselhamento, como esclarece a Dr.ª Andreia Rodrigues,terapeuta da fala no Espaço para a Saúde da Criança e do Adolescente (ESCA) e na Clínica Ponto da Saúde.
Na criança, as dificuldades relacionadas com a linguagem/fala podem revelar-se quando esta surge tardiamente, ou quando por exemplo aos 3 anos ainda não produz frases ou possui um vocabulário reduzido. Um discurso pouco perceptível, com alterações na fluência e na articulação verbal podem constituir sinais de alerta para os pais.
No desenvolvimento da linguagem, a criança passa por várias etapas em diferentes idades, adquirindo novos conhecimentos linguísticos. Pode acontecer manter-se numa etapa do desenvolvimento por mais tempo do que seria esperado para a sua faixa etária, não conseguindo avançar, surgindo os tais sinais de alerta. Torna--se, muitas vezes, pertinente realizar uma avaliação, para determinar se as características da comunicação da criança são ou não adequadas à sua idade. O diagnóstico é feito após uma avaliação (perceptiva e/ou instrumental), complementado com informação proveniente de uma entrevista com os pais, e/ou do profissional que encaminhou a criança para a terapia da fala.
O plano terapêutico é elaborado de acordo com o quadro clínico da criança. A intervenção decorre num ambiente lúdico, utilizando material didáctico e informático.
«É importante que as sessões motivem as crianças. Um dos objectivos é que se sintam à-vontade e gostem do espaço onde vão “brincar para aprender a falar”», refere Andreia Rodrigues.
Falemos em estratégias
Para a terapeuta, faz mais sentido falar em estratégias do que em técnicas:
«Essas são muito variadas e devem ser adequadas a cada caso, não existe uma receita tipo “chapa cinco”, até porque uma estratégia pode resultar com uma criança e com outra não.»
É importante ter bom senso na intervenção terapêutica. O género de jogos utilizados é muito variado, desde jogos com figuras, animais ou objectos. Tudo para a criança conhecer, dizer o respectivo nome e encontrar os sons que tem dificuldade em articular.
Chave, carro, cavalo são exemplos de palavras que o Ângelo já consegue dizer.
O espelho é também um material a que a terapeuta recorre. Segundo a especialista, «para que a criança tenha feed-back visual da posição e movimento da língua e dos lábios na produção dos sons que não consegue articular».
O computador é outro recurso material que constitui uma mais-valia para a intervenção, já que as crianças estão cada vez mais familiarizadas com este tipo de suporte.
A terapeuta realça o carácter de parceria em que esta valência clínica tem de se basear. A terapia da fala consiste no apoio bissemanal (conforme o quadro clínico) individualizado e num trabalho em equipa com todos os intervenientes:família, escola (educadora e professora) e outros profissionais de saúde (pediatra, otorrino, psicólogo).
A participação activa dos pais é muito importante para o sucesso da terapia e acrescenta que o seu papel é tão relevante quanto o da terapeuta.
«É do trabalho em parceria com eles que resulta a eficácia da terapia, reduzindo o tempo do apoio e consolidando as novas aquisições da criança», afirma Andreia Rodrigues, prosseguindo:
«O rendimento da sessão terapêutica fica comprometido quando não hácontinuidade no apoio, colaboração e assiduidade por parte dos pais em todo oprocesso terapêutico.»
Existem várias atitudes comunicativas que os pais podem ter e que constituem verdadeiras acções terapêuticas, contribuindo para a evolução dos seus filhos. Por exemplo, após a avaliação, Andreia Rodrigues elabora um relatório com informação sobre os resultados da avaliação e orientações sobre como comunicar com a criança.
«Por vezes, os pais têm determinadas atitudes quando comunicam com a criança, pensando que a estão a ajudar, no entanto, por vezes, acabam por dificultar o seu desenvolvimento linguístico. Há que ajudar os pais nesse sentido», comenta a terapeuta.
Será benéfico que os pais falem com o filho devagar, de frente para ele, por vezes façam de conta que não o percebem, de forma a que ele reformule o seu discurso.
«Uma das tendências que os pais têm é, por exemplo, quando o filho tem dificuldade em responder a uma questão, responderem por ele, não esperando pelas suas respostas», frisa a terapeuta, que aconselha vivamente que os pais deixem falar a criança sempre que tome a iniciativa.
Outras das atitudes que os pais podem adoptar é elogiar o esforço que o menor está a fazer em comunicar. Não devem também infantilizar a fala, mas sim utilizar palavras e frases simples.
A terapeuta deixa um outro conselho:
«Se a criança pronunciar ou construir mal o seu discurso, os pais devem repetir de forma correcta o que ela tentava dizer, sem, no entanto, a obrigar a repetir.
O acto de a obrigar a repetir uma palavra ou frase pode constituir uma fonte de ansiedade e frustração, podendo surgir comportamentos de recusa para falar. É importante que a criança descubra o prazer da comunicação, num ambiente estimulante e facilitador, para que o seu desenvolvimento linguístico decorra sem dificuldades.»
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