O espasmo do choro (ou do soluço) constitui um fenómeno ou crise paroxística não epilépica, isto é, uma alteração súbita (por isso se designa de paroxistica) do comportamento e cuja fisiopatologia não é explicada por alterações da actividade eléctrica cerebral, mas por vários mecanismos distintos. Trata-se de uma situação transitória e que não necessita de medicação mas que convém ser vigiada.
Os episódios de perda da consciência duram alguns minutos, sendo que a recuperação da consciência se manifesta com relativa rapidez (síncope). Por vezes a estes episódios associam-se movimentos dos membros superiores e inferiores, que geram ansiedade paterna e medo por suspeita errónea de uma suposta convulsão e consequentemente epilepsia. Estes movimentos devem-se à diminuição do sangue que chega ao cérebro e não a crises epilépticas. No entanto, nem todos os episódios de perda da consciência são benignos e deverão, por isso, ser estudados. Algumas destas situações têm como base uma causa cardíaca, que é rara (6%), necessitando de posterior averiguação em meio hospitalar.
O espasmo do choro (ou do soluço), é uma situação muito frequente entre os 6 meses e os 4 anos (sobretudo até aos 18 meses), que pode surgir sob 2 formas clínicas: a forma pálida e a forma cianótica e em que existe sempre um factor desencadeante. Ocorre quando a criança é contrariada ou perante uma frustração, começa a chorar, sustém a respiração, fica “roxa”( forma cianótica ) e pode ter perda de conhecimento. Esta perda de conhecimento pode ser breve, retomando o choro ou ser mais prolongada surgindo mesmo alguns movimentos anormais ou incontinência de esfíncteres. A forma pálida “branca” tem por vezes um diagnóstico mais difícil porque o factor desencadeante é mais subtil. Acontece com algumas crianças quando na sequência de um susto ou um leve traumatismo, começam a chorar, sustêm a respiração e ficam brancas. Qualquer que seja a forma, o tão frequente espasmo do choro (ou do soluço) é uma situação benigna, ou seja a criança não vai ter complicações, estes episódios vão passar e não existe qualquer tratamento eficaz. A única forma de os evitar é manter a tranquilidade (o que por si só já reduz a frequência das crises), evitar os estímulos desencadeantes ou desviando a atenção. O evitamento da contrariedade é algo difícil pois todos nós sabemos que a contrariedade anda de mãos dadas com o desenvolvimento e educação da criança enquanto pessoa. O que poderemos fazer, isso sim, será proporcionar à criança um ambiente o mais sereno possível e falarmos com a educadora ou outras pessoas de referência que estejam com a criança durante o dia, na nossa ausência.
O diagnóstico será tanto melhor quanto melhor for a recolha da história clínica. Todos os pormenores são importantes e podem evitar consequências como submeter a criança a uma série de exames, sujeitar a criança e a família a um stress desnecessário e uma perda de tempo inútil. Convém ainda salientar que nalgumas situações de diagnóstico mais difícil, será importante aguardar a eventual repetição destas crises e se possível fazer um registo de vídeo. No início, os pais ou quem observa estas crises, pela ansiedade que estas podem causar, também poderão não estar nas melhores condições para as descrever ao médico por isso vale a pena manter a calma e aguardar. Existem um conjunto de estratégias que poderemos adoptar perante uma situação de espasmo do choro (ou do soluço): virar a criança de cabeça para baixo até ela estar bem (este procedimento não tem qualquer inconveniente para a criança), beliscar os pés, soprar para a cara dela e até mesmo para dentro da boca da criança, humedecer a sua face e inserir o nosso dedo dentro da boca da criança, mexendo na sua língua.